Há dias em
que simplesmente se acorda com vontade de trepar. Não, não é paudurecência de
mijo. É uma vontade louca de enfiar a pica num buraco e aliviar a tensão de um
sonho perturbador. Eu me sentia assim naquele sábado. Tenso, nervoso,
precisando de um buraco, pois a punheta de todo dia não resolveria. Abri o
velho caderninho e liguei pra quatro nomes sem sucesso. Uma havia viajado. A
outra estava namorando e se dizia fiel. As outras duas deram uma desculpa
esfarrapada porque não estavam a fim mesmo. Era quase meio dia eu continuava
com a pica dura e já apelando pra punheta quando lembrei de uma antiga
namorada. Na verdade, uma antiga admiradora, apaixonada por mim e que eu,
sabendo disso, aproveitava para despejar a porra acumulada quando a bronha não
dava vazão. Ela gostava e não reclamava, nem exigia nada. Sabia que eu estava
ali só pela carne, por uma necessidade que se não fosse ela, seria outra a
suprir. Contrato assinado, seguimos durante anos nesse pacto até que ela se
apaixonou por outro. Acabou-se o que era doce. Ligava e ela me dizia que não
dava mais. Agora a boceta tinha dono. Eu que me virasse em busca de outra
desprendida o suficiente para me aturar. Liguei pausadamente seu número com
certo receio de levar outro fora, mas a voz do outro lado era mais calma e
terna do que das últimas vezes. Que surpresa baby. Tá na falta? Quero meter.
Nossa, quanta delicadeza. A sua cara mesmo. O que houve? E o caderninho? Tá
desatualizado, respondi. Me encontra na Alice, às quatro. Não atrasa porque não
sou mais de ficar à tua disposição. Fechado. Traz uma coisa pra gente brincar.
Uma coisa pra alegrar. Tá certo, vou providenciar. A putinha era uma cheiradora
profissa. Mas eu depois de uma pequena overdose que quase me leva desta pra
melhor só usava em ocasiões especiais. Carnaval, Natal, Ano Novo. Fui até a
Lapa e descolei quatro papelotes com Fabiana, uma traveca mignon, oxigenada,
que descolava um extra com esses pequenos delitos. Dei trinta paus. Compra seis
e fica com dois pra você boneca. Ela sorriu com os dentes amarelecidos e saiu
entre as ruelas sabe-se lá pra onde. Fiquei no Bar das Quengas tomando uma
cerva por mais uns vinte minutos, meio ressabiado de Fabiana ter me passado a
perna, mas logo ela estava de volta, com meus quatro papelotes e um sorriso
travado nos lábios, enxugando o ranho que escorria do nariz colado àquelas
bochechas siliconadas. Quando é que vai me chamar pra algo que não seja mula,
querido? Tem medo do que tenho entre as pernas? Você vai gostar, nunca ninguém
reclamou, satisfação garantida. Fica pruma próxima boneca. Ainda vai ficar de
quatro pra mim querido, pode apostar. Quem sabe? Ela sorriu com o benefício da
dúvida, da esperança de poder me comer um dia. Ri e ela se deu por satisfeita.
Fabiana era gente boa. Pertencia a uma ONG que lutava contra o tráfico de
mulheres e travecas para o exterior. Já fora ameaçada de morte várias vezes
pelas denúncias que fazia. Prometiam as meninas que iam trabalhar em boates na
Europa e faziam com elas vivessem num regime de escravidão, trabalhando, isto
é, fudendo com tantos fossem necessários para pagar a passagem, a hospedagem e
a alimentação. Um ciclo vicioso que não terminava nunca. Quanto mais elas
trabalhavam, mais a dívida aumentava. As que tentavam fugir eram espancadas,
outras mortas mesmo, juntamente com o sonho de se dar bem no velho continente.
Fabiana tentava alertar as colegas. Tentava abrir os olhos ao sucesso e ao
dinheiro fácil. Mas que oportunidades a vida dava pra essas moças presas a um
corpo masculino desde sempre? Ou virar cabeleireira, manicure ou fazer a vida.
Nenhuma empresa quer um traveco em seu quadro de funcionários. Então, a maioria
optava pela carreira mais divertida.
Cheguei no
Serafim, rua Alice, às quatro e meia. Minha amiguinha já estava impaciente.
Porra, tu é abusado, hein? Foi mal. A menina demorou pra trazer nosso presente.
Taí? Parece que é do bom. Quase pura. Daqui. Pede um chopp pra mim, vou provar.
Dito isto foi ao banheiro. Voltou sorrindo. Pura felicidade, baby. Ficamos
tomando chopps e comendo uma tal de punheta de bacalhau. Um prato português de
nome sugestivo. Entre uma punheta e outra nos revezávamos na ida ao banheiro
num brilho de pura felicidade. Ficamos ali durante horas, com assunto que não
acabava mais, crentes de uma inteligência que nunca teríamos. Plenos, geniais,
articuladíssimos. A punheta ficou pela metade no prato. Nenhuma fome mais
desviava nossos devaneios, nosso raciocínio rápido, prático, travado. Esqueci
do pau e logo calculamos que os papelotes não seriam suficientes. Encerramos a
conta e migramos de volta ao Bar das Quengas, onde Fabiana ainda deveria estar
fazendo ponto, se já não tivesse arrumado cliente. Dito e feito. Nada de
Fabiana. O rádio tocava uma velha música de Dolores Duran. "Eu quero
qualquer coisa verdadeira. Um amor, uma saudade, uma lágrima, um amigo..." Que deprê
essa música. Eu gosto, disse. Sou bem nostálgico, você sabe. Tenho um back aqui
comigo. Vamos pra casa, a gente detona e eu te mostro outras canções. Peraí,
gato. Vamos dar um tempo que ela deve voltar. Não vai ficar só num programa no
dia. Ok, eu disse. Pedimos uma Itaipava e ficamos detonando o pouco que restava
do pó. Quando Fabiana chegou vi os olhos de minha amiga saltarem. Temi pelo
pior. Ela é linda não? Porra, garota, tu tá travada. Não pira! A traveca sentou
com a gente e tomamos mais umas quatro cervas. Minha amiga cada vez mais
encantada com a feminilidade da boneca. A conversa esquentou. Minha amiga
perdeu as estribeiras. Sabe que eu sempre
tive curiosidade? Sério? Disse Fabiana. É, mas tem que ser com alguém de
confiança. Você conhece o moço aqui bem né? Eu cada vez mais assustado com o
rumo que as coisas estavam tomando. Conheci num trabalho na ONG em que
trabalho. Ele foi lá escrever um texto pra gente e ajudar a formular o estatuto.
Bacana, só que careta. Careta é o caralho. Esse não querido, pelo menos o meu é
super alternativo. Hahaha. Pedimos que
nos arrumasse mais uns papelotes. Agora é mais caro. Mais caro como assim?
Inflacionou em quatro horas? Sem essa. O valor que combinamos antes e mais a
tua bunda. Hahaha. Não fode Fabiana! Tá brincando comigo. Ah, deixa de
frescura, querido, sua amiga tá a fim e eu também. Olha a carinha dela. Cara de
cachorro vendo frango na padaria. Não vai deixar sua amiga na seca vai? Vamos todos
juntos. Ah caralho, eu vou embora. Cansei dessa palhaçada. Minha amiga me
segurou. Deixa de bobeira baby. É só uma brincadeira. Deixa a gente brincar ao
menos. Você fica olhando. Não tenho grana. Pra vocês é de graça. Cortesia da
casa. Só deixar um pouco do pó pra mim. Minha amiga me pegou pelo braço e
entramos no carro tão rapidamente que quando vi estava em Santa parado ao pé de
um beco que dava pra favela enquanto Fabiana entrava por uma portinhola que
dava sei lá onde.
Decidimos
ir pra um motelzinho barato na rua da Glória. Quando descemos demos de cara com
uma blitz em plena Lapa. Puta que pariu. Fudeu. Bota na xereca baby. Minha
amiga enfiou os papelotes na boceta e quando os tiras viram Fabi não tiveram
dúvidas em parar o carro. Começou a ladainha. A festinha vai ser boa hoje,
hein? Disse o policial de codinome Peçanha. Todo mundo pra fora do carro.
Revistaram a mim e a Fabiana. Não tocaram em minha amiga e quando achávamos que
íamos sair ilesos, encontraram uma ponta no carro. Flagrante, disse Peçanha.
Peraí, vamos conversar, eu disse, na esperança de conquistar o policial bom que
até agora estava calado. Não tem papo malandro. Vamo todo mundo pra DP. Puxei
da carteira uma nota de cinqüenta e chamei o guarda prum canto. Taí amigo. É
tudo que temos. Tamos limpos. Olhei pras meninas ainda apavoradas. Fizeram jogo
duro. Não dá. É pouco cumpadi. Eu até que deixava você ir, quero ir logo pra
casa, mas meu amigo ali é foda, vai rir se eu aceitar só isso. Escuta cara,
você só achou uma ponta. Alguém deixou isso no meu carro. Libera aí. Ganha
cinqüenta e fica tudo na paz. O policial voltou até o carro. Revistou mais uma
vez. No porta luvas tinha um M&M´s meio aberto. Posso ficar com isso? Tá
meio velho, mas pode. Peçanha se juntou ao policial bom e se afastaram mais um
pouco. Olhavam para as meninas com uma certa tara. Escuta, eu não tenho mais
nada. Os documentos do carro tão em dia. Custa liberar? Minha amiga chegou e
foi mais enfática. Cinqüenta paus e um presente da minha amiga ali. Fabiana
acenou do carro sorrindo. Que porra que vocês tão fazendo? Fabiana
descoladíssima puxou os caras pra trás da viatura. Baixou e vi entre os vidros
o sorriso dos guardas. Três minutos
depois voltou limpando a boca e com a nota de cinqüenta nas mãos. Os policiais
saíram de trás do carro e felizes fechavam a braguilha. Fizeram sinal de
positivo. Vaza, rápido, antes que a gente se arrependa. Entramos no carro e
seguimos para o motel aliviados. A esta altura toda a onda do pó tinha se
dissipado pela adrenalina. Negociei, disse Fabi. Se me derem os cinqüenta de
volta deixo gozarem na boca. Hahaha. Incrível. Só no Rio de Janeiro se consegue
corromper policiais com um boquete e um M&M´s velho.
Escolhemos
um quarto temático. Sadomasô. Pedi um uísque e as meninas começaram a brincar.
Meu pau já não subia mais por tanta cocaína. Mas Fabiana sabia das coisas.
Cheirava apenas o suficiente pra ficar ligada e não broxa. Era profissional e
com a ferramenta de trabalho não se brinca. Botou minha amiga deitada e tirou
os papelotes de sua boceta com a boca. Estiquei seis carreiras. Começaram a se
chupar. Um sessenta e nove como eu nunca tinha visto. Meio bizarro. Meio
patético. Tentei tocar uma punheta pra ver se o pau levantava. Nada. Nem um
sinal de vida. Quando Fabiana por fim enfiou sua pica meio atrofiada na minha
amiga tive vontade de vomitar. Mas agüentei o tranco. No mínimo, teria o que
contar pros amigos num dia de domingo.
As meninas não paravam. Fizeram um sinal pra mim. Eu ri e disse que não.
Ainda não desta vez, Fabiana! Ela também riu e seguiu metendo. Fabiana gozou
nos peitos da garota e ela por sua vez espalhou a porra sobre os bicos ainda
duros. Fiquei olhando com um ar de incrédulo. De arqueólogo do submundo,
perplexo e admirado com tudo aquilo. Foram para o banho e de lá gritaram para
que eu preparasse mais algumas carreiras. Botamos pra dentro mais três. Um dia
ainda como esse teu cu. Esquece boneca. Um dia você ainda vai implorar. Hahaha,
você é foda. Não desiste nunca. Sou brasileira, baby. Amanheceu. Travados, mas
felizes, resolvemos andar pelo Aterro. Era um domingo ensolarado. Andávamos pra
ver se a onda passava. Andando, andando, andando e nada. Uma criança empinava
uma pipa. Outra família fazia uma farofada com churrasco, frango e coca cola.
Olhavam pra gente com um ar de reprovação. Aquele não era o nosso habitat. Dois
meninos comiam M&M´s. Olha lá, eu disse. Quem é o bom e o mau? Hahaha. A
euforia deu lugar a uma tristeza rapidamente. Eu precisava crescer.
Urgentemente. Me despedi das duas e voltei pra casa. Tomei um banho e mexi no
pau. Desta vez ele respondeu. Gozei. Vi a porra descer pelo ralo e todo o corpo
murchar. Liguei a TV e fiquei vendo com um brilho nos olhos Silvio Santos rindo
e suas colegas de trabalho pulando histéricas na platéia. Enquanto tirava do nariz
melecas brancas lembrei de Dolores. A solidão vai acabar comigo.