quinta-feira, 7 de agosto de 2014

UM BRILHO NOS OLHOS

Há dias em que simplesmente se acorda com vontade de trepar. Não, não é paudurecência de mijo. É uma vontade louca de enfiar a pica num buraco e aliviar a tensão de um sonho perturbador. Eu me sentia assim naquele sábado. Tenso, nervoso, precisando de um buraco, pois a punheta de todo dia não resolveria. Abri o velho caderninho e liguei pra quatro nomes sem sucesso. Uma havia viajado. A outra estava namorando e se dizia fiel. As outras duas deram uma desculpa esfarrapada porque não estavam a fim mesmo. Era quase meio dia eu continuava com a pica dura e já apelando pra punheta quando lembrei de uma antiga namorada. Na verdade, uma antiga admiradora, apaixonada por mim e que eu, sabendo disso, aproveitava para despejar a porra acumulada quando a bronha não dava vazão. Ela gostava e não reclamava, nem exigia nada. Sabia que eu estava ali só pela carne, por uma necessidade que se não fosse ela, seria outra a suprir. Contrato assinado, seguimos durante anos nesse pacto até que ela se apaixonou por outro. Acabou-se o que era doce. Ligava e ela me dizia que não dava mais. Agora a boceta tinha dono. Eu que me virasse em busca de outra desprendida o suficiente para me aturar. Liguei pausadamente seu número com certo receio de levar outro fora, mas a voz do outro lado era mais calma e terna do que das últimas vezes. Que surpresa baby. Tá na falta? Quero meter. Nossa, quanta delicadeza. A sua cara mesmo. O que houve? E o caderninho? Tá desatualizado, respondi. Me encontra na Alice, às quatro. Não atrasa porque não sou mais de ficar à tua disposição. Fechado. Traz uma coisa pra gente brincar. Uma coisa pra alegrar. Tá certo, vou providenciar. A putinha era uma cheiradora profissa. Mas eu depois de uma pequena overdose que quase me leva desta pra melhor só usava em ocasiões especiais. Carnaval, Natal, Ano Novo. Fui até a Lapa e descolei quatro papelotes com Fabiana, uma traveca mignon, oxigenada, que descolava um extra com esses pequenos delitos. Dei trinta paus. Compra seis e fica com dois pra você boneca. Ela sorriu com os dentes amarelecidos e saiu entre as ruelas sabe-se lá pra onde. Fiquei no Bar das Quengas tomando uma cerva por mais uns vinte minutos, meio ressabiado de Fabiana ter me passado a perna, mas logo ela estava de volta, com meus quatro papelotes e um sorriso travado nos lábios, enxugando o ranho que escorria do nariz colado àquelas bochechas siliconadas. Quando é que vai me chamar pra algo que não seja mula, querido? Tem medo do que tenho entre as pernas? Você vai gostar, nunca ninguém reclamou, satisfação garantida. Fica pruma próxima boneca. Ainda vai ficar de quatro pra mim querido, pode apostar. Quem sabe? Ela sorriu com o benefício da dúvida, da esperança de poder me comer um dia. Ri e ela se deu por satisfeita. Fabiana era gente boa. Pertencia a uma ONG que lutava contra o tráfico de mulheres e travecas para o exterior. Já fora ameaçada de morte várias vezes pelas denúncias que fazia. Prometiam as meninas que iam trabalhar em boates na Europa e faziam com elas vivessem num regime de escravidão, trabalhando, isto é, fudendo com tantos fossem necessários para pagar a passagem, a hospedagem e a alimentação. Um ciclo vicioso que não terminava nunca. Quanto mais elas trabalhavam, mais a dívida aumentava. As que tentavam fugir eram espancadas, outras mortas mesmo, juntamente com o sonho de se dar bem no velho continente. Fabiana tentava alertar as colegas. Tentava abrir os olhos ao sucesso e ao dinheiro fácil. Mas que oportunidades a vida dava pra essas moças presas a um corpo masculino desde sempre? Ou virar cabeleireira, manicure ou fazer a vida. Nenhuma empresa quer um traveco em seu quadro de funcionários. Então, a maioria optava pela carreira mais divertida.
Cheguei no Serafim, rua Alice, às quatro e meia. Minha amiguinha já estava impaciente. Porra, tu é abusado, hein? Foi mal. A menina demorou pra trazer nosso presente. Taí? Parece que é do bom. Quase pura. Daqui. Pede um chopp pra mim, vou provar. Dito isto foi ao banheiro. Voltou sorrindo. Pura felicidade, baby. Ficamos tomando chopps e comendo uma tal de punheta de bacalhau. Um prato português de nome sugestivo. Entre uma punheta e outra nos revezávamos na ida ao banheiro num brilho de pura felicidade. Ficamos ali durante horas, com assunto que não acabava mais, crentes de uma inteligência que nunca teríamos. Plenos, geniais, articuladíssimos. A punheta ficou pela metade no prato. Nenhuma fome mais desviava nossos devaneios, nosso raciocínio rápido, prático, travado. Esqueci do pau e logo calculamos que os papelotes não seriam suficientes. Encerramos a conta e migramos de volta ao Bar das Quengas, onde Fabiana ainda deveria estar fazendo ponto, se já não tivesse arrumado cliente. Dito e feito. Nada de Fabiana. O rádio tocava uma velha música de Dolores Duran. "Eu quero qualquer coisa verdadeira. Um amor, uma saudade, uma lágrima, um amigo..."  Que deprê essa música. Eu gosto, disse. Sou bem nostálgico, você sabe. Tenho um back aqui comigo. Vamos pra casa, a gente detona e eu te mostro outras canções. Peraí, gato. Vamos dar um tempo que ela deve voltar. Não vai ficar só num programa no dia. Ok, eu disse. Pedimos uma Itaipava e ficamos detonando o pouco que restava do pó. Quando Fabiana chegou vi os olhos de minha amiga saltarem. Temi pelo pior. Ela é linda não? Porra, garota, tu tá travada. Não pira! A traveca sentou com a gente e tomamos mais umas quatro cervas. Minha amiga cada vez mais encantada com a feminilidade da boneca. A conversa esquentou. Minha amiga perdeu as estribeiras.  Sabe que eu sempre tive curiosidade? Sério? Disse Fabiana. É, mas tem que ser com alguém de confiança. Você conhece o moço aqui bem né? Eu cada vez mais assustado com o rumo que as coisas estavam tomando. Conheci num trabalho na ONG em que trabalho. Ele foi lá escrever um texto pra gente e ajudar a formular o estatuto. Bacana, só que careta. Careta é o caralho. Esse não querido, pelo menos o meu é super alternativo. Hahaha.  Pedimos que nos arrumasse mais uns papelotes. Agora é mais caro. Mais caro como assim? Inflacionou em quatro horas? Sem essa. O valor que combinamos antes e mais a tua bunda. Hahaha. Não fode Fabiana! Tá brincando comigo. Ah, deixa de frescura, querido, sua amiga tá a fim e eu também. Olha a carinha dela. Cara de cachorro vendo frango na padaria. Não vai deixar sua amiga na seca vai? Vamos todos juntos. Ah caralho, eu vou embora. Cansei dessa palhaçada. Minha amiga me segurou. Deixa de bobeira baby. É só uma brincadeira. Deixa a gente brincar ao menos. Você fica olhando. Não tenho grana. Pra vocês é de graça. Cortesia da casa. Só deixar um pouco do pó pra mim. Minha amiga me pegou pelo braço e entramos no carro tão rapidamente que quando vi estava em Santa parado ao pé de um beco que dava pra favela enquanto Fabiana entrava por uma portinhola que dava sei lá onde.
Decidimos ir pra um motelzinho barato na rua da Glória. Quando descemos demos de cara com uma blitz em plena Lapa. Puta que pariu. Fudeu. Bota na xereca baby. Minha amiga enfiou os papelotes na boceta e quando os tiras viram Fabi não tiveram dúvidas em parar o carro. Começou a ladainha. A festinha vai ser boa hoje, hein? Disse o policial de codinome Peçanha. Todo mundo pra fora do carro. Revistaram a mim e a Fabiana. Não tocaram em minha amiga e quando achávamos que íamos sair ilesos, encontraram uma ponta no carro. Flagrante, disse Peçanha. Peraí, vamos conversar, eu disse, na esperança de conquistar o policial bom que até agora estava calado. Não tem papo malandro. Vamo todo mundo pra DP. Puxei da carteira uma nota de cinqüenta e chamei o guarda prum canto. Taí amigo. É tudo que temos. Tamos limpos. Olhei pras meninas ainda apavoradas. Fizeram jogo duro. Não dá. É pouco cumpadi. Eu até que deixava você ir, quero ir logo pra casa, mas meu amigo ali é foda, vai rir se eu aceitar só isso. Escuta cara, você só achou uma ponta. Alguém deixou isso no meu carro. Libera aí. Ganha cinqüenta e fica tudo na paz. O policial voltou até o carro. Revistou mais uma vez. No porta luvas tinha um M&M´s meio aberto. Posso ficar com isso? Tá meio velho, mas pode. Peçanha se juntou ao policial bom e se afastaram mais um pouco. Olhavam para as meninas com uma certa tara. Escuta, eu não tenho mais nada. Os documentos do carro tão em dia. Custa liberar? Minha amiga chegou e foi mais enfática. Cinqüenta paus e um presente da minha amiga ali. Fabiana acenou do carro sorrindo. Que porra que vocês tão fazendo? Fabiana descoladíssima puxou os caras pra trás da viatura. Baixou e vi entre os vidros o sorriso dos guardas.  Três minutos depois voltou limpando a boca e com a nota de cinqüenta nas mãos. Os policiais saíram de trás do carro e felizes fechavam a braguilha. Fizeram sinal de positivo. Vaza, rápido, antes que a gente se arrependa. Entramos no carro e seguimos para o motel aliviados. A esta altura toda a onda do pó tinha se dissipado pela adrenalina. Negociei, disse Fabi. Se me derem os cinqüenta de volta deixo gozarem na boca. Hahaha. Incrível. Só no Rio de Janeiro se consegue corromper policiais com um boquete e um M&M´s velho.

Escolhemos um quarto temático. Sadomasô. Pedi um uísque e as meninas começaram a brincar. Meu pau já não subia mais por tanta cocaína. Mas Fabiana sabia das coisas. Cheirava apenas o suficiente pra ficar ligada e não broxa. Era profissional e com a ferramenta de trabalho não se brinca. Botou minha amiga deitada e tirou os papelotes de sua boceta com a boca. Estiquei seis carreiras. Começaram a se chupar. Um sessenta e nove como eu nunca tinha visto. Meio bizarro. Meio patético. Tentei tocar uma punheta pra ver se o pau levantava. Nada. Nem um sinal de vida. Quando Fabiana por fim enfiou sua pica meio atrofiada na minha amiga tive vontade de vomitar. Mas agüentei o tranco. No mínimo, teria o que contar pros amigos num dia de domingo.  As meninas não paravam. Fizeram um sinal pra mim. Eu ri e disse que não. Ainda não desta vez, Fabiana! Ela também riu e seguiu metendo. Fabiana gozou nos peitos da garota e ela por sua vez espalhou a porra sobre os bicos ainda duros. Fiquei olhando com um ar de incrédulo. De arqueólogo do submundo, perplexo e admirado com tudo aquilo. Foram para o banho e de lá gritaram para que eu preparasse mais algumas carreiras. Botamos pra dentro mais três. Um dia ainda como esse teu cu. Esquece boneca. Um dia você ainda vai implorar. Hahaha, você é foda. Não desiste nunca. Sou brasileira, baby. Amanheceu. Travados, mas felizes, resolvemos andar pelo Aterro. Era um domingo ensolarado. Andávamos pra ver se a onda passava. Andando, andando, andando e nada. Uma criança empinava uma pipa. Outra família fazia uma farofada com churrasco, frango e coca cola. Olhavam pra gente com um ar de reprovação. Aquele não era o nosso habitat. Dois meninos comiam M&M´s. Olha lá, eu disse. Quem é o bom e o mau? Hahaha. A euforia deu lugar a uma tristeza rapidamente. Eu precisava crescer. Urgentemente. Me despedi das duas e voltei pra casa. Tomei um banho e mexi no pau. Desta vez ele respondeu. Gozei. Vi a porra descer pelo ralo e todo o corpo murchar. Liguei a TV e fiquei vendo com um brilho nos olhos Silvio Santos rindo e suas colegas de trabalho pulando histéricas na platéia. Enquanto tirava do nariz melecas brancas lembrei de Dolores. A solidão vai acabar comigo.

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