terça-feira, 13 de agosto de 2013

DOIS BALAS E ALGUNS MANGOS

SEXTA
Um saco a solidão urbana. Quanto mais gente ao redor, mais sozinho se está. Um paradoxo pra lá de comprovado. Eu tinha saído às três de uma boate em Copa fincada num subsolo de um prédio caindo aos pedaços da década de 50. Fedia a cigarro, maconha e outros odores que só os frequentadores mais toscos saberiam identificar. Havia bebido umas dez latas de cerveja e meus ouvidos estavam parcialmente surdos pelo bate-estaca eletrônico do local. Ao invés de tomar um táxi até em casa, resolvi andar pra ver se a bebedeira ou a surdez passavam. Desci pela Barata cruzando com mendigos, adolescentes cheirando cola e um policial tomando uma média num botequim ainda aberto. Quando passei pelo Cervantes, resolvi que comer um daqueles sandubas feito à mão, com Abacaxi e Filé faria bem a ressaca anunciada do dia seguinte. De madrugada tudo é mais gostoso, mas eu tinha uma teoria que os sanduíches do Cervantes só eram bons porque feitos à mão. A gordura e o suor das mãos do cara que preparava os sanduíches, sem luvas logicamente, é que davam o sabor e a fama ao restaurante. Após me lambuzar com o suor e o sanduba, eu tinha ainda trinta mangos no bolso.  Mangos - era assim que a Araca já decadente e velha dava as notas no programa do Sílvio. Quanto vale o show, Aracy? Dez mangos, Silvio! A nota mais baixa era sempre a dela. Ranzinza, inconformada e amargurada talvez de terminar seus dias ali, num programa de quinta, julgando os incompetentes ridicularizados pelo apresentador. Ri sozinho da minha nostalgia e resolvi que a noite ainda não havia acabado e que eu precisava torrar os mangos. Trinta pra ser exato. Entrei no primeiro inferninho que me apareceu. Cicciolina. A atriz pornô italiana dava nome ao meu rumo. Trinta mangos e direito a um drink. Me parecia justo. Não queria comer ninguém. Àquela altura tinha sérias dúvidas se meu instrumento iria acatar qualquer ordem do meu cérebro. Só queria me divertir mais um pouco. Olhar uns peitos, depois tocar uma punheta se possível ao chegar em casa e dormir. Pedi um Uísque duplo, cowboy. Sentei numa quina de um sofá vermelho imitando couro entre duas garotas se acariciando e um grupo de moleques na faixa dos dezoito ainda deslumbrado com a nudez do corpo humano. Eu também não parava quieto em meu olhar, perdido entre tantas bundas, peitos e coxas a trezentos mangos por duas horas. Mangos que eu nem de longe sonhava em ter pra comprar uma daquelas meninas e levar pra um pulgueiro da Lapa. Por isso me contentava em olhar, fantasiar. Sexo seguro. Além do quê eu não saberia trepar com uma delas. Me orgulhava de nunca ter pago por sexo. Mesmo nas horas mais carentes eu tinha a sorte de um antigo caderno de telefones onde amigas me atendiam em troca só de um bom papo. Uma cerveja ou um vinho barato. Eu estava ali por curiosidade talvez ou por pura perversão de um tarado de 44 anos, solitário de tanto ouvir e tanto compreender. À minha frente estava uma senhora gorda, cinquentona, tomando algo que parecia uma cuba. Era a mais vestida de todas. Tinha noção do ridículo e ficava também sentada, à espera de algum coroa que lhe pagasse outro drink. Sorriu pra mim quando sentei e devolvi levantando o copo, sugerindo um brinde. Fiquei vendo o show que acabava de começar. Sexo explícito. Sem nenhum glamour. A moça se esfregava numa daquelas barras de ferro, rebolava daqui, dali, até que vinha um negão, vestido de policial a lá Village People, com uma vara que eu jamais tinha visto em qualquer filme pornô. A mocinha se esfregava nele, chupava, e num certo momento enfiava aquilo tudo dentro dela, de quatro. Incrível, mas cabia. Devia doer pra caralho, literalmente, pois a moça depois de umas dez estocadas do sujeito, tirou o bicho pra fora e lambeu mais um pouco pra delírio dos adolescentes ao meu lado que urravam como num jogo de futebol final de campeonato. A moça sorria, mexia com o pau do cara e baixava e subia a vara, como se o instrumento também agradecesse e fosse um artista a mais no palco. O negão levantou a garota, colocou sobre os ombros e a carregou pra dentro do camarim sob aplausos, enquanto ela dava thauzinhos e balançava as pernas. Bati palmas também. Mais pelo talento da putinha do que pela performance. Era incrível como ela conseguia agasalhar a trolha do negão, sorrindo, fingindo até mesmo um certo prazer. A velha continuava me olhando e fez um sinal de aprovação ao showzinho com os dois polegares pra cima como a pedir meu julgamento. Sorri mais uma vez e ela se sentiu mais intima até que cinco minutos depois o garçom me colocou mais um duplo cowboy na mesa. Oferecimento dela. Esse eu pago, disse. Só vim tomar este. Estou indo pra casa. Ela sorriu e perguntou se não tinha meia hora pra uma conversa. Uma conversa sem segundas intenções. Não vou arrumar mais nada mesmo a esta hora. Chega mais perto. Fui. Atendia pelo nome de Samantha. Como a bruxa do seriado, lembra? Lembro. A que mexia com o nariz. Você também faz mágicas com o nariz? Com o nariz não, mas mexo outra parte do corpo que é pura magia. Hahaha. Muito bom. Aceitei o drink e conversamos não por meia, mas umas duas, até o dia clarear. Samantha era boa de conversa e experiente, humor afiado que me deixou aceso e desperto por sua retórica de puta velha. Quando voltei pra casa após dez cervejas e quatro cowboys duplos tudo girava e não lembro muito bem como fui parar na cama ainda vestido e com um telefone no bolso.

SÁBADO
Voltei a Cicciolina meia-noite, com a promessa de pagar os três uísques que Samantha me oferecera. Não que eu fosse mal agradecido, mas é que o papo foi tão bom que eu me sentia na obrigação de retribuir e devolver os drinkes da noite anterior. Desta vez foi uma garrafa inteira. Ballantines, a nove mangos a dose. Mas desta vez não ficamos pro show. Uma porradaria no salão fechou a boate e antes que a polícia chegasse, Samantha me aconselhou cair fora pra não sobrar pra mim. Seguimos pro Leme, Universidade do Chopp. Era quase três quando começamos nossas divagações. Samantha era um ótimo papo, atualizada, discutia sobre desde a crise na faixa de Gaza até as falcatruas do governo federal, passando pela modelo a ser eliminada do Big Brother. Como eu, ela era cansada. Esgotada e arrasada aos cinqüenta e sete anos. Fodida e mal paga. Mas não tem pra onde fugir, baby. Se correr o bicho pega, se ficar eles nem te comem. Já não há mais saída pra mim. O jeito é levar até aonde der. Quando aparece um louco e me come por umas semanas eu me dou por satisfeita. O apê é meu. Comprei na época das vacas gordas. Agora a vaca gorda sou eu. Hahaha. Mas tá tranqüilo. Tenho o suficiente pra fazer as compras do mês. O jeito é ir matando um leão a cada dia. Já me diverti o bastante, não tenho do quê reclamar. Eu escutava sua história com ar de padre no confessionário. Só que não havia penitências a serem cumpridas. Ao contrário, era extremamente prazeroso ouvir todos aqueles pecados derrubados e servidos na mesa do bar. Samantha me transformava num ingênuo, num tolinho inexperiente que não tinha vivido a metade e que tinha muito a aprender. Quando amanheceu ela chamou o táxi de um amigo. Me deixou em casa e seguiu com o baixinho motorista, careca, com ares de nordestino da feira dos paraíbas. Como é que você paga o cara? Ah, meu querido, eu tô velha, mas minha chupada ainda é uma das melhores.  Confesso que meu pau chegou a se manifestar. Coroa esperta. O sexo seria o seu ganha pão até o fim. E eu pensava seriamente em perder minha honradez e pela primeira vez pagar pra comer alguém.

DOMINGO
Às quatro da tarde depois de tomar o café, procurei pelo telefone no bolso da camisa. Alô. Tô a fim de um programa. Quanto é? Pra você tem desconto. 50%. Cem paus. Cem mangos, disse. Lembra da Araca? É assim que ela falava no programa do Silvio. Hahaha. Você parou no tempo, baby. Nostalgia pura. Marquei às 10 na casa dela. Já estávamos íntimos para tal. Passei numa Pacheco da vida e comprei a pílula azul, caixinha com quatro comprimidos. Cento e cinco mangos. Não que eu precise destas ajudas químicas. Modéstia à parte, meu pau ainda se sustenta sem remédios, mas para encarar Samantha eu precisava de uma força. Tinha medo de que quando ela tirasse a roupa, minha moral fosse pro espaço e eu não queria dar esse mole. Tomei dois. O bicho ficou inchado. Uma bomba vermelha, quase roxo. Quando ela abriu a porta e me viu assim ficou espantada, quase orgulhosa. Baby, que lindo. Caiu de boca. Chupava como nunca eu tinha experimentado, sugando meu saco, colocando as bolas pra dentro e sorvendo a cabeça do meu pau, a glande encostando no céu da boca, babando, escorrendo a baba pelos peitos e esfregando os dois já meio murchos, mas ainda apetitosos.  Mexia a língua e a virava por completo, envolvendo o pau, numa elasticidade que me fez entender o seu apelido inspirado no seriado. Quando gozei na sua boca, Samantha antes de engolir me mostrou a porra entre os dentes. Lambeu os beiços. Filha da puta. Não, a puta sou eu mesmo. Tira minha mãe da história. Hahaha. A pica murchou durante o tempo dela pegar uma garrafa de Ballantines e encher os copos. Molhou minha pica no Bala e chupou mais um pouco até o bicho crescer. Quando a garrafa acabou, foi pra cama e tirou a roupa me oferecendo uma das piores visões que um homem pode ter. As pelancas da velha caíam e murchas balançavam, enquanto ela fazia caras e bocas me seduzindo. Tive pena. Mas agora era questão de honra. Um homem não pode deixar uma mulher assim. Apaguei a luz e virei ela de quatro. Enfiei minha vara com toda a força naquela buça velha e estoquei tanto quanto pude enquanto ela gritava e eu imaginava ser de felicidade e prazer. Mete, baby. Mete. Samantha urrava e eu sentia sua buça quente e melada na minha pica. Muito molhada. Vai. Isso. Mete igual homem! Continuei metendo durante muito tempo até não ouvir mais a voz da bruxa. Quando esporrei, Samantha já estava dormindo. Caí ao seu lado tonto pelo uísque e apaguei também. A noite, quando acendi as luzes a cama estava banhada de sangue. Minha pica um lixo. Tive medo de tocar na coroa. Medo dela não ouvir. De não se mexer. Estranho. Muita intimidade pra três dias apenas. Tirei os cem mangos e deixei na cabeceira. Não sei se ela ainda iria fazer as compras do mês. Mas ao menos parecia sorrir de olhos fechados. Bati a porta e voltei pra casa meio deprê e ainda de pau duro. Passei por mendigos, meninos e velhos tristes jogando paciência. Quanto mais gente ao redor, mais sozinho se está. Um saco a solidão urbana.

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