SEXTA
Um saco a
solidão urbana. Quanto mais gente ao redor, mais sozinho se está. Um paradoxo
pra lá de comprovado. Eu tinha saído às três de uma boate em Copa fincada num
subsolo de um prédio caindo aos pedaços da década de 50. Fedia a cigarro,
maconha e outros odores que só os frequentadores mais toscos saberiam
identificar. Havia bebido umas dez latas de cerveja e meus ouvidos estavam
parcialmente surdos pelo bate-estaca eletrônico do local. Ao invés de tomar um
táxi até em casa, resolvi andar pra ver se a bebedeira ou a surdez passavam.
Desci pela Barata cruzando com mendigos, adolescentes cheirando cola e um
policial tomando uma média num botequim ainda aberto. Quando passei pelo
Cervantes, resolvi que comer um daqueles sandubas feito à mão, com Abacaxi e
Filé faria bem a ressaca anunciada do dia seguinte. De madrugada tudo é mais
gostoso, mas eu tinha uma teoria que os sanduíches do Cervantes só eram bons
porque feitos à mão. A gordura e o suor das mãos do cara que preparava os
sanduíches, sem luvas logicamente, é que davam o sabor e a fama ao restaurante.
Após me lambuzar com o suor e o sanduba, eu tinha ainda trinta mangos no
bolso. Mangos - era assim que a
Araca já decadente e velha dava as notas no programa do Sílvio. Quanto vale o
show, Aracy? Dez mangos, Silvio! A nota mais baixa era sempre a dela. Ranzinza,
inconformada e amargurada talvez de terminar seus dias ali, num programa de
quinta, julgando os incompetentes ridicularizados pelo apresentador. Ri sozinho
da minha nostalgia e resolvi que a noite ainda não havia acabado e que eu
precisava torrar os mangos. Trinta pra ser exato. Entrei no primeiro inferninho
que me apareceu. Cicciolina. A atriz pornô italiana dava nome ao meu rumo.
Trinta mangos e direito a um drink. Me parecia justo. Não queria comer ninguém.
Àquela altura tinha sérias dúvidas se meu instrumento iria acatar qualquer
ordem do meu cérebro. Só queria me divertir mais um pouco. Olhar uns peitos,
depois tocar uma punheta se possível ao chegar em casa e dormir. Pedi um Uísque
duplo, cowboy. Sentei numa quina de um sofá vermelho imitando couro entre duas
garotas se acariciando e um grupo de moleques na faixa dos dezoito ainda
deslumbrado com a nudez do corpo humano. Eu também não parava quieto em meu
olhar, perdido entre tantas bundas, peitos e coxas a trezentos mangos por duas
horas. Mangos que eu nem de longe sonhava em ter pra comprar uma daquelas
meninas e levar pra um pulgueiro da Lapa. Por isso me contentava em olhar,
fantasiar. Sexo seguro. Além do quê eu não saberia trepar com uma delas. Me
orgulhava de nunca ter pago por sexo. Mesmo nas horas mais carentes eu tinha a
sorte de um antigo caderno de telefones onde amigas me atendiam em troca só de
um bom papo. Uma cerveja ou um vinho barato. Eu estava ali por curiosidade
talvez ou por pura perversão de um tarado de 44 anos, solitário de tanto ouvir
e tanto compreender. À minha frente estava uma senhora gorda, cinquentona,
tomando algo que parecia uma cuba. Era a mais vestida de todas. Tinha noção do
ridículo e ficava também sentada, à espera de algum coroa que lhe pagasse outro
drink. Sorriu pra mim quando sentei e devolvi levantando o copo, sugerindo um
brinde. Fiquei vendo o show que acabava de começar. Sexo explícito. Sem nenhum
glamour. A moça se esfregava numa daquelas barras de ferro, rebolava daqui,
dali, até que vinha um negão, vestido de policial a lá Village People, com uma
vara que eu jamais tinha visto em qualquer filme pornô. A mocinha se esfregava
nele, chupava, e num certo momento enfiava aquilo tudo dentro dela, de quatro.
Incrível, mas cabia. Devia doer pra caralho, literalmente, pois a moça depois
de umas dez estocadas do sujeito, tirou o bicho pra fora e lambeu mais um pouco
pra delírio dos adolescentes ao meu lado que urravam como num jogo de futebol
final de campeonato. A moça sorria, mexia com o pau do cara e baixava e subia a
vara, como se o instrumento também agradecesse e fosse um artista a mais no
palco. O negão levantou a garota, colocou sobre os ombros e a carregou pra
dentro do camarim sob aplausos, enquanto ela dava thauzinhos e balançava as
pernas. Bati palmas também. Mais pelo talento da putinha do que pela
performance. Era incrível como ela conseguia agasalhar a trolha do negão,
sorrindo, fingindo até mesmo um certo prazer. A velha continuava me olhando e
fez um sinal de aprovação ao showzinho com os dois polegares pra cima como a
pedir meu julgamento. Sorri mais uma vez e ela se sentiu mais intima até que
cinco minutos depois o garçom me colocou mais um duplo cowboy na mesa. Oferecimento
dela. Esse eu pago, disse. Só vim tomar este. Estou indo pra casa. Ela sorriu e
perguntou se não tinha meia hora pra uma conversa. Uma conversa sem segundas
intenções. Não vou arrumar mais nada mesmo a esta hora. Chega mais perto. Fui.
Atendia pelo nome de Samantha. Como a bruxa do seriado, lembra? Lembro. A que
mexia com o nariz. Você também faz mágicas com o nariz? Com o nariz não, mas
mexo outra parte do corpo que é pura magia. Hahaha. Muito bom. Aceitei o drink
e conversamos não por meia, mas umas duas, até o dia clarear. Samantha era boa
de conversa e experiente, humor afiado que me deixou aceso e desperto por sua
retórica de puta velha. Quando voltei pra casa após dez cervejas e quatro
cowboys duplos tudo girava e não lembro muito bem como fui parar na cama ainda
vestido e com um telefone no bolso.
SÁBADO
Voltei a
Cicciolina meia-noite, com a promessa de pagar os três uísques que Samantha me
oferecera. Não que eu fosse mal agradecido, mas é que o papo foi tão bom que eu
me sentia na obrigação de retribuir e devolver os drinkes da noite anterior.
Desta vez foi uma garrafa inteira. Ballantines, a nove mangos a dose. Mas desta
vez não ficamos pro show. Uma porradaria no salão fechou a boate e antes que a
polícia chegasse, Samantha me aconselhou cair fora pra não sobrar pra mim.
Seguimos pro Leme, Universidade do Chopp. Era quase três quando começamos
nossas divagações. Samantha era um ótimo papo, atualizada, discutia sobre desde
a crise na faixa de Gaza até as falcatruas do governo federal, passando pela
modelo a ser eliminada do Big Brother. Como eu, ela era cansada. Esgotada e
arrasada aos cinqüenta e sete anos. Fodida e mal paga. Mas não tem pra onde
fugir, baby. Se correr o bicho pega, se ficar eles nem te comem. Já não há mais
saída pra mim. O jeito é levar até aonde der. Quando aparece um louco e me come
por umas semanas eu me dou por satisfeita. O apê é meu. Comprei na época das
vacas gordas. Agora a vaca gorda sou eu. Hahaha. Mas tá tranqüilo. Tenho o
suficiente pra fazer as compras do mês. O jeito é ir matando um leão a cada
dia. Já me diverti o bastante, não tenho do quê reclamar. Eu escutava sua
história com ar de padre no confessionário. Só que não havia penitências a
serem cumpridas. Ao contrário, era extremamente prazeroso ouvir todos aqueles
pecados derrubados e servidos na mesa do bar. Samantha me transformava num
ingênuo, num tolinho inexperiente que não tinha vivido a metade e que tinha
muito a aprender. Quando amanheceu ela chamou o táxi de um amigo. Me deixou em
casa e seguiu com o baixinho motorista, careca, com ares de nordestino da feira
dos paraíbas. Como é que você paga o cara? Ah, meu querido, eu tô velha, mas
minha chupada ainda é uma das melhores.
Confesso que meu pau chegou a se manifestar. Coroa esperta. O sexo seria
o seu ganha pão até o fim. E eu pensava seriamente em perder minha honradez e
pela primeira vez pagar pra comer alguém.
DOMINGO
Às quatro
da tarde depois de tomar o café, procurei pelo telefone no bolso da camisa.
Alô. Tô a fim de um programa. Quanto é? Pra você tem desconto. 50%. Cem paus.
Cem mangos, disse. Lembra da Araca? É assim que ela falava no programa do
Silvio. Hahaha. Você parou no tempo, baby. Nostalgia pura. Marquei às 10 na
casa dela. Já estávamos íntimos para tal. Passei numa Pacheco da vida e comprei
a pílula azul, caixinha com quatro comprimidos. Cento e cinco mangos. Não que
eu precise destas ajudas químicas. Modéstia à parte, meu pau ainda se sustenta
sem remédios, mas para encarar Samantha eu precisava de uma força. Tinha medo
de que quando ela tirasse a roupa, minha moral fosse pro espaço e eu não queria
dar esse mole. Tomei dois. O bicho ficou inchado. Uma bomba vermelha, quase
roxo. Quando ela abriu a porta e me viu assim ficou espantada, quase orgulhosa.
Baby, que lindo. Caiu de boca. Chupava como nunca eu tinha experimentado,
sugando meu saco, colocando as bolas pra dentro e sorvendo a cabeça do meu pau,
a glande encostando no céu da boca, babando, escorrendo a baba pelos peitos e
esfregando os dois já meio murchos, mas ainda apetitosos. Mexia a língua e a virava por completo,
envolvendo o pau, numa elasticidade que me fez entender o seu apelido inspirado
no seriado. Quando gozei na sua boca, Samantha antes de engolir me mostrou a
porra entre os dentes. Lambeu os beiços. Filha da puta. Não, a puta sou eu
mesmo. Tira minha mãe da história. Hahaha. A pica murchou durante o tempo dela
pegar uma garrafa de Ballantines e encher os copos. Molhou minha pica no Bala e
chupou mais um pouco até o bicho crescer. Quando a garrafa acabou, foi pra cama
e tirou a roupa me oferecendo uma das piores visões que um homem pode ter. As
pelancas da velha caíam e murchas balançavam, enquanto ela fazia caras e bocas
me seduzindo. Tive pena. Mas agora era questão de honra. Um homem não pode
deixar uma mulher assim. Apaguei a luz e virei ela de quatro. Enfiei minha vara
com toda a força naquela buça velha e estoquei tanto quanto pude enquanto ela
gritava e eu imaginava ser de felicidade e prazer. Mete, baby.
Mete. Samantha urrava e
eu sentia sua buça quente e melada na minha pica. Muito molhada. Vai. Isso.
Mete igual homem! Continuei metendo durante muito tempo até não ouvir mais a
voz da bruxa. Quando esporrei, Samantha já estava dormindo. Caí ao seu lado
tonto pelo uísque e apaguei também. A noite, quando acendi as luzes a cama
estava banhada de sangue. Minha pica um lixo. Tive medo de tocar na coroa. Medo
dela não ouvir. De não se mexer. Estranho. Muita intimidade pra três dias
apenas. Tirei os cem mangos e deixei na cabeceira. Não sei se ela ainda iria
fazer as compras do mês. Mas ao menos parecia sorrir de olhos fechados. Bati a
porta e voltei pra casa meio deprê e ainda de pau duro. Passei por mendigos,
meninos e velhos tristes jogando paciência. Quanto mais gente ao redor, mais
sozinho se está. Um saco a solidão urbana.
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